RACISMO AMBIENTAL E DESFECHOS DE SAÚDE NO BRASIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Autores

  • Julio Cesar de Aguiar

DOI:

https://doi.org/10.56238/revgeov16n5-024

Palavras-chave:

Racismo Ambiental, Disparidades em Saúde, Brasil, Saneamento, Quilombola

Resumo

O racismo ambiental, o ônus ambiental desproporcional sofrido por comunidades racializadas, representa uma intersecção crítica entre justiça social e saúde pública. Apesar da diversidade racial e dos desafios ambientais do Brasil, evidências sistemáticas sobre racismo ambiental e desfechos em saúde permanecem limitadas. Esta revisão sistemática sintetiza as evidências disponíveis seguindo as diretrizes PRISMA 2020. Sete bases de dados foram pesquisadas de janeiro de 2017 a setembro de 2025 em busca de estudos que examinassem exposições ambientais, populações racializadas e desfechos em saúde no Brasil. De 59 registros identificados, 18 estudos atenderam aos critérios de inclusão (taxa de inclusão de 40%). Comunidades quilombolas foram a população mais estudada (38,9%), com saneamento inadequado como a exposição predominante (83,3%). Todos os estudos documentaram racismo ambiental por meio de exposição desproporcional a riscos, resposta governamental inadequada e exclusão sistemática da tomada de decisões. Meta-análises exploratórias revelaram extrema heterogeneidade (I²> 75%), impedindo a síntese quantitativa. O racismo ambiental é consistentemente documentado em contextos brasileiros, com saneamento inadequado como a principal injustiça. Comunidades quilombolas e indígenas enfrentam ônus desproporcionais à saúde ambiental, enraizados na marginalização histórica e na negligência institucional. Pesquisas futuras devem priorizar a padronização metodológica para permitir uma síntese quantitativa robusta.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

1. ACSELRAD, H. Conflitos ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004.

2. ACSELRAD, H.; MELLO, C. C. A.; BEZERRA, G. N. O que é justiça ambiental. Rio de Janeiro: Garamond, 2013.

3. ALMEIDA, A. W. B. Os quilombos e as novas etnias. In: O'DWYER, E. C. (org.). Quilombos: identidade étnica e territorialidade. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2002. p. 43-81.

4. ALMEIDA, A. W. B. Terra de quilombo, terras indígenas, "babaçuais livres", "castanhais do povo", faxinais e fundos de pasto: terras tradicionalmente ocupadas. Manaus: PPGSCA-UFAM, 2008.

5. BARATA, R. B. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009. doi:10.7476/9788575415288.

6. BARBOSA, J. L. C.; LIMONAD, E.; HAESBAERT, R. Território e conflito na produção do espaço urbano. In: SANTOS, M. et al. (orgs.). Território, territórios: ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro: Lamparina, 2015. p. 271-292.

7. BATISTA, L. E.; ESCUDER, M. M. L.; PEREIRA, J. C. R. A cor da morte: causas de óbito segundo características de raça no Estado de São Paulo, 1999 a 2001. Revista de Saúde Pública, v. 38, n. 5, p. 630-636, 2012. doi:10.1590/S0034-89102004000500005.

8. BRULLE, R. J.; PELLOW, D. N. Environmental justice: human health and environmental inequalities. Annual Review of Public Health, v. 27, p. 103-124, 2006. doi:10.1146/annurev.publhealth.27.021405.102124.

9. BULLARD, R. D. Dumping in Dixie: Race, class, and environmental quality. Boulder, CO: Westview Press, 1990.

10. BULLARD, R. D. Environmental justice in the 21st century: race still matters. Phylon, v. 49, n. 3-4, p. 151-171, 2008.

11. COIMBRA JR., C. E.; SANTOS, R. V.; WELCH, J. R. The first national survey of indigenous people's health and nutrition in Brazil: rationale, methodology, and overview of results. BMC Public Health, v. 13, n. 1, p. 52, 2013. doi:10.1186/1471-2458-13-52.

12. COLE, L. W.; FOSTER, S. R. From the ground up: Environmental racism and the rise of the environmental justice movement. New York: NYU Press, 2001.

13. CRENSHAW, K.; GOTANDA, N.; PELLER, G.; THOMAS, K. (eds.). Critical race theory: The key writings that formed the movement. New York: The New Press, 1995.

14. DIEGUES, A. C. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: Hucitec, 2008.

15. FERRANTE, L.; FEARNSIDE, P. M. Brazil's new president and 'ruralists' threaten Amazonia's environment, traditional peoples and the global climate. Environmental Conservation, v. 46, n. 4, p. 261-263, 2019. doi:10.1017/S0376892919000213.

16. FREYRE, G. Casa-grande & senzala. Rio de Janeiro: Global Editora, 1933.

17. GEE, G. C.; PAYNE-STURGES, D. C. Environmental health disparities: a framework integrating psychosocial and environmental concepts. Environmental Health Perspectives, v. 112, n. 17, p. 1645-1653, 2004. doi:10.1289/ehp.7074.

18. GERONIMUS, A. T. The weathering hypothesis and the health of African-American women and infants: evidence and speculations. Ethnicity & Disease, v. 2, n. 3, p. 207-221, 1992.

19. GOES, E. F.; NASCIMENTO, E. R. Mulheres negras e brancas e os níveis de acesso aos serviços preventivos de saúde: uma análise sobre as desigualdades. Saúde em Debate, v. 37, p. 571-579, 2013. doi:10.1590/S0103-11042013000400002.

20. GUIMARÃES, A. S. A. Racismo e anti-racismo no Brasil. São Paulo: Editora 34, 1995.

21. HELLER, L. Water and sanitation policies in Brazil: historical inequalities and institutional change. In: Water and sanitation services: public policy and management. London: Earthscan, 2009. p. 321-337.

22. HELLER, L.; COLOSIMO, E. A.; ANTUNES, C. M. F. Environmental sanitation conditions and health impact: a case-control study. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 36, n. 1, p. 41-50, 2003. doi:10.1590/S0037-86822003000100006.

23. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Demográfico 2022: Características gerais da população. Rio de Janeiro: IBGE, 2022. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/. Acesso em: 10 out. 2025.

24. JESUS, V. M. Racializando o olhar (sociológico) sobre a saúde ambiental em saneamento da população negra: um continuum colonial chamado racismo ambiental. Saúde e Sociedade, v. 29, n. 2, e190472, 2020. doi:10.1590/S0104-12902020190472.

25. LERNER, S. Sacrifice zones: The front lines of toxic chemical exposure in the United States. Cambridge, MA: MIT Press, 2010.

26. LITTLE, P. E. Territórios sociais e povos tradicionais no Brasil: por uma antropologia da territorialidade. Brasília: Universidade de Brasília, 2002.

27. MARA, D.; LANE, J.; SCOTT, B.; TROUBA, D. Sanitation and health. PLoS Medicine, v. 7, n. 11, e1000363, 2010. doi:10.1371/journal.pmed.1000363.

28. MARICATO, E. Metrópole, legislação e desigualdade. Estudos Avançados, v. 17, n. 48, p. 151-166, 2003. doi:10.1590/S0103-40142003000200010.

29. MORELLO-FROSCH, R.; ZUK, M.; JERRETT, M.; SHAMASUNDER, B.; KYLE, A. D. Understanding the cumulative impacts of inequalities in environmental health: implications for policy. Health Affairs, v. 30, n. 5, p. 879-887, 2011. doi:10.1377/hlthaff.2011.0153.

30. NEVES, D. P.; FREITAS, C. M.; LAURIANO, F. Distribuição espacial de áreas verdes e vulnerabilidade socioambiental na cidade do Rio de Janeiro. Ambiente & Sociedade, v. 23, e01481, 2020. doi:10.1590/1809-4422asoc20170148r2vu2020L2AO.

31. OMI, M.; WINANT, H. Racial formation in the United States. 3. ed. New York: Routledge, 2015.

32. PACHECO, T. Desigualdade, injustiça ambiental e racismo: uma luta que transcende a cor da pele. In: Justiça ambiental e cidadania. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2008. p. 11-20.

33. PAGE, M. J. et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews. BMJ, v. 372, n. 71, 2021. doi:10.1136/bmj.n71.

34. PELLOW, D. N. Total liberation: The power and promise of animal rights and the radical earth movement. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2017.

35. PERLMAN, J. E. Favela: Four decades of living on the edge in Rio de Janeiro. New York: Oxford University Press, 2010.

36. PORTO, M. F. Uma ecologia política dos riscos: princípios para integrarmos o local e o global na promoção da saúde e da justiça ambiental. Ciência & Saúde Coletiva, v. 12, n. 6, p. 1493-1509, 2007. doi:10.1590/S1413-81232007000600020.

37. PRÜSS-ÜSTÜN, A. et al. Burden of disease from inadequate water, sanitation and hygiene in low- and middle-income settings: a retrospective analysis of data from 145 countries. Tropical Medicine & International Health, v. 19, n. 8, p. 894-905, 2014. doi:10.1111/tmi.12329.

38. ROLNIK, R. Guerra dos lugares: A colonização da terra e da moradia na era das finanças. São Paulo: Boitempo Editorial, 2015.

39. SANTOS, B. S.; HERKENHOFF, J. B.; HERKENHOFF, M. B. Os quilombos no Brasil: questões conceituais e normativas. Observatório da Jurisdição Constitucional, v. 7, n. 1, p. 1-29, 2019.

40. SCHLOSBERG, D. Defining environmental justice: Theories, movements, and nature. Oxford: Oxford University Press, 2007.

41. SCHWARCZ, L. M. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

42. SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO (SNIS). Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos - 2021. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Regional, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/saneamento/snis. Acesso em: 10 out. 2025.

43. SU, J. G. et al. An index for assessing demographic inequalities in cumulative environmental hazards with application to Los Angeles, California. Environmental Science & Technology, v. 46, n. 20, p. 11310-11318, 2012. doi:10.1021/es302138y.

44. TELLES, E. E. Race in another America: The significance of skin color in Brazil. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2004.

45. TORRES, H.; ALVES, H.; OLIVEIRA, M. A. São Paulo peri-urban dynamics: some social causes and environmental consequences. Environment and Urbanization, v. 18, n. 1, p. 207-223, 2006. doi:10.1177/0956247806063979.

46. UN-HABITAT. World Cities Report 2016: Urbanization and development - Emerging futures. Nairobi: United Nations Human Settlements Programme, 2016. Disponível em: https://unhabitat.org/world-cities-report-2016. Acesso em: 10 out. 2025.

47. WALKER, G. Environmental justice: Concepts, evidence and politics. London: Routledge, 2012.

48. WOLCH, J. R.; BYRNE, J.; NEWELL, J. P. Urban green space, public health, and environmental justice: the challenge of making cities 'just green enough'. Landscape and Urban Planning, v. 125, p. 234-244, 2014. doi:10.1016/j.landurbplan.2014.01.017.

49. ZHOURI, A.; LASCHEFSKI, K. Desenvolvimento e conflitos ambientais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

Downloads

Publicado

2025-10-15

Como Citar

de Aguiar, J. C. (2025). RACISMO AMBIENTAL E DESFECHOS DE SAÚDE NO BRASIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA. Revista De Geopolítica, 16(5), e773 . https://doi.org/10.56238/revgeov16n5-024