CIDADES INTELIGENTES, SUSTENTABILIDADE E SABEDORIA DOS POVOS INDÍGENAS
DOI:
https://doi.org/10.56238/revgeov16n4-057Palavras-chave:
Cidades Inteligentes, Sustentabilidade, Povos Indígenas, Krenak, SociossemióticaResumo
Este artigo faz uma crítica ao conceito hegemônico de Cidades Inteligentes (Smart Cities), que frequentemente se restringe aos avanços tecnológicos e interesses econômicos. O objetivo é friccionar a visão ocidental de sustentabilidade e progresso urbano com a sabedoria dos povos indígenas, particularmente a partir das contribuições de Ailton Krenak, e com a crítica da questão urbana de Milton Santos, visando construir uma compreensão mais inclusiva e verdadeiramente sustentável do futuro urbano. A metodologia empregada articula a análise do espaço geográfico como instância social e política, proposta por Milton Santos, com a sociossemiótica de Eric Landowski. Esta última é utilizada para decifrar as estruturas discursivas subjacentes às obras de Ailton Krenak (A vida não é útil, Ideias para adiar o fim do mundo, O amanhã não está à venda), permitindo explorar como o autor desconstrói o antropocentrismo ocidental e propõe uma reconfiguração das relações entre humanos e não-humanos. Os principais achados revelam que a concepção predominante de Cidades Inteligentes, ao priorizar a tecnologia e a lógica utilitarista, contribui para a perpetuação de desigualdades sociais e a “cidadania mutilada”, conforme teorizado por Santos. Em contraste, a perspectiva indígena de Krenak desafia o “poder-fazer” e o “saber-fazer” técnico-científico, reposicionando a natureza como actante e a vida como valor intrínseco, não utilitário. Uma cidade verdadeiramente inteligente, segundo essa articulação, seria aquela que reconhece a pluralidade de saberes, desafia a produção e o consumo incessante, promove autonomia e corresponsabilidade com o território, e integra racionalidades não-ocidentais e a “instituição do sonho” como guias para um desenvolvimento equitativo e resiliente. O estudo conclui que a integração da sabedoria indígena e da crítica geográfica é crucial para que as Cidades Inteligentes transcendam a retórica tecnocrática e se tornem ambientes que promovam a inclusão social, a ética da vida e a desalienação.
Downloads
Referências
ABNT NBR ISO 37122:2020. Indicadores de Cidade Inteligente. Rio de Janeiro: ABNT, 2020.
ALONSO, Andre Deak. Morte e vida de cidades inteligentes: tecnologia, colonialismo e antropoceno. Tese (Doutorado em Design) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2023.
BOUSKELA, M. et al. Caminho para as Smart Cities: da Gestão Tradicional para a Cidade Inteligente. Brasília: Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), 2016.
BRASIL. Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional e Urbano. Carta Brasileira para Cidades Inteligentes. Brasília: SMDRU, 2021.
CHOURABI, H. et al. Understanding Smart Cities: An integrative framework. 45th Hawaii International Conference on System Sciences, p. 2289-2297, 2012. DOI: 10.1109/HICSS.2012.615.
COMISSÃO Brundtland. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1987.
CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1989.
EUROPEAN COMMISSION. Smart Cities and Communities. Brussels: European Commission, 2019.
FRANCISCO Jr et al (org.). Cidades Inteligentes: uma abordagem humana e sustentável. Série Estudos estratégicos, nº 12. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2021. Disponível em: https://bd.camara.leg.br/bd/items/0fb0d78d-e608-420d-95eb-48dbf5170efe.
GEHL, Jan. Cidades para pessoas. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013.
GIFFINGER, R. et al. Smart Cities: Ranking of European medium-sized cities. Vienna: Vienna University of Technology, 2007.
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2018.
KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020a.
KRENAK, Ailton. O amanhã não está à venda. São Paulo: Companhia das Letras, 2020b.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
LANDOWSKI, Eric. A sociedade refletida: ensaios de sociossemiótica. São Paulo: Educ; Pontes, 1992.
LOPES, Daniel; LEITE, Vittorio. Cidades Inteligentes: conceitos e aplicações. Brasília: EvEx, 2021.
MONFAREDZADEH, N.; BERARDI, U. Sustainability assessment of Smart Cities: A review. Energy Procedia, v. 75, p. 87-93, 2015. DOI: 10.1016/j.egypro.2015.07.202.
RANKING CONNECTED SMART CITIES. Connected Smart Cities 2023. São Paulo: Urban Systems; Necta, 2024.
REIA, Jess; CRUZ, Luã. Cidades inteligentes no Brasil: conexões entre poder corporativo, direitos e engajamento cívico. Cadernos Metrópole, v. 25, p. 467-490, 2023.
SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: Edusp, 1993.
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007.
SENNE, M. C. Índice de Sustentabilidade e Integração do Transporte e Logística Urbana (ISITransLog). Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Universidade Federal de Itajubá, Minas Gerais, 2021.
UN-HABITAT. World Cities Report 2020: The Value of Sustainable Urbanization. Nairobi: United Nations Human Settlements Programme, 2020.
UNITED NATIONS. Transforming our World: The 2030 Agenda for Sustainable Development. New York: United Nations, 2015.