CIDADES INTELIGENTES, SUSTENTABILIDADE E SABEDORIA DOS POVOS INDÍGENAS

Autores

  • David Mesquiati de Oliveira

DOI:

https://doi.org/10.56238/revgeov16n4-057

Palavras-chave:

Cidades Inteligentes, Sustentabilidade, Povos Indígenas, Krenak, Sociossemiótica

Resumo

Este artigo faz uma crítica ao conceito hegemônico de Cidades Inteligentes (Smart Cities), que frequentemente se restringe aos avanços tecnológicos e interesses econômicos. O objetivo é friccionar a visão ocidental de sustentabilidade e progresso urbano com a sabedoria dos povos indígenas, particularmente a partir das contribuições de Ailton Krenak, e com a crítica da questão urbana de Milton Santos, visando construir uma compreensão mais inclusiva e verdadeiramente sustentável do futuro urbano. A metodologia empregada articula a análise do espaço geográfico como instância social e política, proposta por Milton Santos, com a sociossemiótica de Eric Landowski. Esta última é utilizada para decifrar as estruturas discursivas subjacentes às obras de Ailton Krenak (A vida não é útil, Ideias para adiar o fim do mundo, O amanhã não está à venda), permitindo explorar como o autor desconstrói o antropocentrismo ocidental e propõe uma reconfiguração das relações entre humanos e não-humanos. Os principais achados revelam que a concepção predominante de Cidades Inteligentes, ao priorizar a tecnologia e a lógica utilitarista, contribui para a perpetuação de desigualdades sociais e a “cidadania mutilada”, conforme teorizado por Santos. Em contraste, a perspectiva indígena de Krenak desafia o “poder-fazer” e o “saber-fazer” técnico-científico, reposicionando a natureza como actante e a vida como valor intrínseco, não utilitário. Uma cidade verdadeiramente inteligente, segundo essa articulação, seria aquela que reconhece a pluralidade de saberes, desafia a produção e o consumo incessante, promove autonomia e corresponsabilidade com o território, e integra racionalidades não-ocidentais e a “instituição do sonho” como guias para um desenvolvimento equitativo e resiliente. O estudo conclui que a integração da sabedoria indígena e da crítica geográfica é crucial para que as Cidades Inteligentes transcendam a retórica tecnocrática e se tornem ambientes que promovam a inclusão social, a ética da vida e a desalienação.

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Publicado

2025-09-22

Como Citar

de Oliveira, D. M. (2025). CIDADES INTELIGENTES, SUSTENTABILIDADE E SABEDORIA DOS POVOS INDÍGENAS. Revista De Geopolítica, 16(4), e706. https://doi.org/10.56238/revgeov16n4-057