USO DA DOLOMITA COMO ADSORVENTE DE FOSFATO EM ÁGUAS RESIDUAIS: AVALIAÇÃO COMPARATIVA ENTRE AMOSTRAS IN NATURA E PURIFICADA
DOI:
https://doi.org/10.56238/revgeov16n5-047Palavras-chave:
Adsorção, Fósforo, Caracterização Estrutural, Tratamento de Efluentes, Remoção de Nutrientes, Sustentabilidade, Economia CircularResumo
A eutrofização de corpos hídricos, intensificada pelo excesso de fósforo proveniente de efluentes domésticos e atividades agroindustriais, constitui um dos maiores desafios ambientais atuais. Nesse contexto, a busca por materiais adsorventes de baixo custo e ampla disponibilidade tem sido considerada estratégica para mitigar a poluição difusa. A dolomita, mineral carbonático abundante no território brasileiro, apresenta potencial para remoção de fósforo, mas sua eficiência depende das condições estruturais e da presença de impurezas. Deste modo, este estudo avaliou comparativamente a eficiência de adsorção de fósforo por dolomita in natura (DN) e dolomita purificada (DP), integrando análises de desempenho em ensaios de adsorção e caracterizações estruturais e superficiais por espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), microscopia eletrônica de varredura (MEV) e espectroscopia de energia dispersiva de raios X (EDS). A curva de calibração estabelecida para determinação de fósforo apresentou comportamento linear no intervalo de 1 a 25 mg·L⁻¹. Os limites de detecção (LOD = 0,178 mg·L⁻¹) e quantificação (LOQ = 0,593 mg·L⁻¹) confirmaram a sensibilidade da técnica, permitindo monitorar variações sutis após a adsorção. Nos ensaios comparativos, a dolomita in natura apresentou remoções entre 24,3% e 36,7%, com tendência de redução da eficiência em concentrações mais elevadas. Já a dolomita purificada apresentou desempenho consistentemente superior, com remoções entre 89,9% e 95,6%, independentemente da concentração inicial de fosfato. Essa diferença foi atribuída à eliminação de impurezas durante a purificação, o que resultou em maior área superficial, porosidade e disponibilidade de sítios ativos de Ca²⁺ e Mg²⁺. As análises de caracterização reforçaram os resultados dos ensaios. O FTIR confirmou a presença de bandas típicas de carbonatos (CO₃²⁻) em ambas as amostras, além do surgimento de novas bandas relacionadas a grupos fosfato (PO₄³⁻) após o processo de adsorção, mais intensas na dolomita purificada. As imagens de MEV revelaram que a DN possui partículas irregulares, heterogêneas e com presença de fissuras, enquanto a DP apresentou partículas homogêneas, compactas e com maior porosidade. Os resultados de EDS confirmaram a composição elementar característica da dolomita e, de forma decisiva, a presença de fósforo apenas na DP saturada a 40 mg·L⁻¹, evidência direta de maior eficiência de fixação do ânion fosfato. A comparação com a literatura mostrou que os resultados deste estudo são consistentes com trabalhos que reportam baixa eficiência de dolomitas não tratadas e remoções superiores a 90% em materiais purificados ou modificados. Nesse sentido, a dolomita purificada demonstrou desempenho comparável a adsorventes sintéticos de maior custo, como zeólitas modificadas e óxidos metálicos, destacando-se pela ampla disponibilidade e viabilidade econômica no Brasil. Assim, a dolomita purificada representa uma alternativa promissora, sustentável e de baixo custo para a remoção de fósforo em soluções aquosas, com potencial aplicação em sistemas descentralizados de saneamento.
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